segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Gramática no contexto morfológico e sintático / Variação Linguística


A Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a classe gramatical a que ela pertence. Quando nos referimos às classes gramaticais, logo sabemos que se refere àquelas dez, que são: substantivos, artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, preposições, advérbios e numerais.

A Sintaxe é a parte que estuda a função que as palavras desempenham dentro da oração.
Agora, referimo-nos a sujeito, adjunto adverbial, objeto direto e indireto, complemento nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros.
Para melhor entendermos o que foi dito, tomemos como exemplo as seguintes orações:

A manhã está ensolarada
Agora faremos a análise morfológica de todos os seus termos:

A - artigo
Manhã - substantivo
Está - verbo (estar)
Ensolarada - adjetivo

Quanto à análise sintática, temos:

A manhã - Sujeito simples
Está ensolarada - predicado nominal, pois o verbo proposto denota estado, logo é um verbo de ligação.
Ensolarada - predicativo do sujeito, pois revela uma característica (qualidade) sobre o mesmo.

Marcos e Paulo gostam de estudar todos os dias.

Morfologicamente temos:

Marcos - substantivo próprio
Paulo - substantivo próprio
Gostam- verbo (gostar)
De - preposição
Estudar - verbo no infinitivo (forma original)
Todos- pronome indefinido
Os- artigo definido
Dias- substantivo simples

E sintaticamente:

Marcos e Paulo - sujeito composto (dois núcleos)
Gostam de estudar todos os dias- predicado verbal
De estudar - objeto indireto (complementa o sentido do verbo)
Todos os dias - adjunto adverbial de tempo
Podemos perceber que quando se trata da análise morfológica, os termos da oração são analisados passo a passo, já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a posição desempenhada.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras Fonte


Exercícios 
Exercícios 2 

Exercícios:

        Quando vemos um vulto no escuro, sentimos “ um frio na barriga.”
  • Uma notícia ruim dá “ um frio na espinha.”
  • Alguém que nunca vê seu time ganhar quando vai ao estádio é “um pé frio.”
  • A uma criança que está longe da surpresa, se diz: “ tá frio, tá frio, tá congelando.”
  • A uma pessoa cruel diz-se que tem o “coração gelado.”
  • Deparar-se com alguém que sempre pede dinheiro emprestado e nunca paga é “entrar numa fria.”
  • Pediu aumento e não recebeu é o mesmo que levar “um balde de água fria.”
  • Sei lá, mas ela me tratou de “um modo tão frio...” não sei o que houve.
  • Não adianta... o nosso “amor esfriou.”
  • “Esta nota é fria” – não vale nada.
  • Pode parar!! Tu só “ me metes em fria!”
  • O assassino era “frio” e calculista!
  • Estou te avisando! Não vai lá que “é uma fria!”
 
RETIRE DO TEXTO:
2 advérbios de modo –
2 advérbios de intensidade –
3 advérbios de tempo –
2 advérbios de lugar –
2 expressões coloquiais –
1 advérbio erudito –
3 pronomes indefinidos –
2 pronomes possessivos –
3 pronomes do caso oblíquo –
2 pronomes do caso reto –
3 adjetivos –
3 substantivos -


  Fonte

Variações Linguísticas



Vícios de Linguagem

Quando o falante desvia do padrão para alcançar uma maior expressividade,
temos as figuras de linguagem.
Quando o desvio se dá pelo desconhecimento da norma culta por parte
de quem fala ou escreve, temos os chamados vícios de linguagem.
Encontramos, então, a redundância, o pleonasmo e a tautologia.

Redundância significa:
1 – excesso: demasia, exagero,  superabundância, superfluidade de palavras.
2 – prolixidade: articulação, eloquência,  verborragia, verbosidade.

Pleonasmo é a figura de linguagem que consiste na repetição de uma
ideia ou de uma função sintática. Trata-se de um recurso estilístico utilizado
para dar clareza ou relevo, enfatizar, realçar uma ideia; também
chamado de pleonasmo de estilo.  
Exemplos:
Os vidros, eu os lavei hoje.
Vi, com meus próprios olhos, e mesmo assim não acreditei.
Sonhar lindos sonhos.
“E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento”. (Vinicius de Moraes)

Pleonasmo é um termo genérico, que tanto pode adornar a linguagem
como torná-la feia e sem encanto. Assim como outras  construções e
empregos de palavras, tanto pode ser um vício como uma figura de
linguagem.
Alguns pleonasmos são utilizados sem nenhum efeito estilístico; nesses
casos, temos um vício de linguagem, como nestes exemplos corriqueiros:
entrar para dentro;  sair para fora; subir para cima; descer para baixo.

Redundância, Tautologia,  Pleonasmo Vicioso

Observe o seguinte texto, tema de uma questão de vestibular:
“A árvore, oca por dentro, era muito elevada, tinha vinte metros
de altura total, do chão ao topo: estava, por esta razão, prestes  cair,
 daí a instantes, para baixo.”
“Oca por dentro” e “cair para baixo” são exemplos de pleonasmo
de estilo. Já as passagens altura total, do chão ao topo e prestes a
cair, daí a instantes são bons exemplos de redundância.
Tautologia:  Vício de linguagem que consiste em dizer sempre a
mesma coisa por formas diferentes;  se caracteriza pela seguida
repetição, por meio de palavras diferentes de um pensamento
anteriormente anunciado, baseando-se no desconhecimento da
verdadeira significação dos termos empregados ou porque há
expressões que estão enraizadas  no uso.

Podemos dizer que tautologia é outra denominação do pleonasmo
vicioso; ambos são vícios de linguagem.

Exemplos de vícios de linguagem que devem ser evitados:
monopólio exclusivo; principal protagonista; manusear com as mãos;
preparar de antemão; prosseguir adiante; prever  antes; boato falso;
fato concreto;  fato  verídico;  fato ocorrido; fato acontecido; abertura
inaugural; elo de ligação; acabamento final;  conviver junto; detalhes
minuciosos; metades iguais;  empréstimo temporário; encarar de frente;
evidência concreta;  há anos atrás;  planejar antecipadamente;  superávit
positivo; criação nova; comparecer pessoalmente; todos foram unânimes.

O filme é baseado em fatos reais? Troque-o por um filme baseado em
fatos ou baseado numa história real,  já que história pode ser real
ou não.

                          
 Fonte



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Exercícios online
Exercícios online 2


domingo, 23 de setembro de 2012

Figuras de Linguagem - Poesias


As FIGURAS DE LINGUAGEM são os recursos usados pelo falante para realçar a sua mensagem. Veja a seguir uma lista com 16 figuras de linguagem acompanhadas de exemplos para você entender perfeitamente essa matéria muito vista nas aulas de português.

1) ANACOLUTO

É a falta de lógica que existe entre o início e o fim de uma frase.

Dois gatinhos miando no muro, conversávamos sobre como é complicada a vida dos animais.
Novas espécies de tubarão no Japão, refletia sobre como é misteriosa a natureza.

2) PLEONASMO

Na oração: “Ela cantou uma canção linda!”, houve o emprego de um termo excessivo, desnecessário, pois quem canta, só pode cantar uma canção, oras.

Na frase muito utilizada: “Vi com meus próprios olhos.”, também acontece o mesmo. Imagina! Teria como ver com as orelhas?

Pleonasmo é a repetição de idéias

3) HIPÉRBATO

Exemplos:
Correm pelo parque as crianças da rua.
Na escada subiu o eletricista.

As duas orações estão na ordem inversa.
O hipérbato consiste na inversão dos termos da oração.

Na ordem direta ficaria:

As crianças da rua correm pelo parque.
O eletricista subiu na escada.

4) ELIPSE – ZEUGMA

Veja os exemplos:

1-Na estante, livros e mais livros.
2-Ele prefere um passeio pela praia; eu, cinema.

No 1º exemplo temos uma elipse, já no 2º, a figura que aparece é o zeugma.

A elipse consiste na omissão de um termo que é facilmente identificado.

No exemplo 1, é claramente perceptível que o verbo “haver” foi omitido.
No exemplo 2, se dá o zeugma, que é a omissão de um termo que já fora expresso anteriormente.

“Ele prefere um passeio pela praia;eu, (prefiro) cinema.”(Não houve necessidade de repetir o verbo, pois foi possível entender a mensagem).

5) SILEPSE

É a concordância com a idéia e não com a palavra dita.
Pode ser: de gênero, número ou pessoa.

SILEPSE DE GÊNERO (masc./fem.)Vossa Excelência está admirado do fato?

O pronome de tratamento “Vossa Execelência” é feminino, mas o adjetivo “admirado” está no masculino. Ou seja, concordou com a pessoa a quem se referia (no caso, um homem).
Aqui temos o feminino e o masculino, logo, silepse de gênero.

SILEPSE DE NÚMERO (singular/plural)

Aquela multidão gritavam diante do ídolo.

Multidão está no singular, mas o verbo está no plural.
“Gritavam” concorda com a idéia de plural que está em “multidão”.

Mais exemplos.

A maior parte fizeram a prova.
A grande maioria estudam uma língua.

SILEPSE DE PESSOA

Todos estávamos nervosos.

Esta frase levaria o verbo normalmente para a 3ª pessoa (estavam - eles) mas a concordância foi feita com a 1ª pessoa(nós).
Temos aqui 2 pessoas ( eles e nós ) logo, silepse de pessoa.

Mais exemplos:

As duas comemos muita pizza.(elas – nós)
Todos compramos chocolates e balas.(eles – nós)
Os brasileiros sois um povo solidário. (eles – vós)
Os cariocas somos muito solidários.(eles – nós)

6) METÁFORA – COMPARAÇÃO

1-Aquele homem é um cavalo.

Estamos comparando um homem com um cavalo, pois esse homem é forte e robusto como um cavalo.

2-A vida vem em ondas como o mar.

Aqui também existe uma comparação, só que desta vez é usado o conectivo comparativo: como.

O exemplo 1 é uma metáfora e o exemplo 2 é uma comparação.

Exemplos de matáfora.

Ele é um capeta.
Ela uma flor.

Exemplos de comparação.

A chuva cai como canivetes.
A mocidade é como uma flor.

Metáfora: sem o conectivo comparativo.
Comparação: com o conectivo (como, tal como, assim como)

9) METONÍMIA

Aqui também existe a comparação, só que desta vez ela é mais objetiva.

Ele gosta de ler Agatha Christie.
Ele comeu uma caixa de chocolate.
(Ele comeu o que estava dentro da caixa)
A velhice deve ser respeitada.
Pão para quem tem fome.(“Pão” no lugar de “alimento”)
Não tinha teto em que se abrigasse.(“Teto” em lugar de “casa”)

10) PERÍFRASE - ANTONOMÁSIA

A Cidade Maravilhosa recebe muitos turistas durante o carnaval.
O Rei do futebol foi categórico.
A Dama do Suspense escreveu livros ótimos.
O Mestre do Suspense dirigiu grandes clássicos do cinema.

Nos exemplos acima notamos que usamos expressões especiais para falar de alguém ou de algum lugar.

Cidade Maravilhosa: Rio de Janeiro
Rei das Selvas: Pelé
A Dama do Suspense: Agatha Christie
O Mestre do Suspense: Alfred Hitchcock

Quando usamos esse recurso estamos empregando a perífrase ou antonomásia.
Perífrase, quando se tratar de lugares ou animais.
Antonomásia, quando forem pessoas

11) CATACRESE

A catacrese é o emprego indevido de uma palavra ou expressão por esquecimento ou ignorância do seu real sentido.

Sentou-se no braço da poltrona para descansar.
A asa da xícara quebrou-se.
O pé da mesa estava quebrado.
Vou colocar um fio de azeite na sopa.

12) ANTÍTESE

Emprego de termos com sentidos contrários.

Ela se preocupa tanto com o passado que esquece o presente.
A guerra não leva a nada, devemos buscar a paz.

13) EUFEMISMO

Aquele rapaz não é legal, ele subtraiu dinheiro.
Acho que não fui feliz nos exames.

O objetivo dessas orações foi abrandar a mensagem, ou seja, ser mais educado.
No exemplo 1 o verbo “roubar” foi substituído por uma expressão mais leve.
O mesmo ocorre co o exemplo 2 , “reprovado “ também foi substituído por uma expressão mais leve.

14) IRONIA

Que homem lindo! (quando se trata, na verdade, de um homem feio.)
Como você escreve bem, meu vizinho de 5 anos teria feito uma redação melhor!
Que bolsa barata, custou só mil reais!

15) HIPÉRBOLE

É o exagero na afirmação.

Já lhe disse isso um bilhão de vezes.
Quando o filme começou, voei para casa.

16) PROSOPOPÉIA

Atribuição de qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais e inanimados.

A formiga disse para a cigarra: ” Cantou...agora dança!”  Fonte

Exercícios Online

Recursos estilísticos da poesia: figuras de linguagem

Os recursos estilísticos utilizados na poesia, demarcados pelas figuras de linguagem, conferem mais expressividade à mensagem
A poesia precisa comover, despertar emoções, enlevar. Assim, fazendo valer tais intenções, o poeta dispõe de recursos diversos, haja vista que na linguagem não há limites nem objeções.
Relacionadas a esse assunto, estão as figuras de linguagem, envolvidas no estilo de quem realiza um trabalho especial com a linguagem, dado o perfil conotativo que assumem os textos pertencentes ao gênero lírico.
Norteados pelo objetivo de ressaltar acerca dos traços que demarcam esses recursos, passaremos a estabelecer familiaridade com algumas dessas figuras de linguagem, as quais representam o aspecto em questão. Podemos destacar:
Metáfora
De forma literal, o poema em questão representa tal recurso estilístico:

Metáfora

Uma lata existe para conter algo

Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
                                       Gilberto Gil
Constatamos que o autor estabelece uma relação de semelhança entre a “lata”, objeto concreto, e a capacidade artística do poeta.
Antítese
Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                                                  Camões
Inferimos que há um jogo de contraste entre palavras opostas, tais como: contentamento/descontente/ dói/ não se sente/não querer/mais que bem querer...
Prosopopeia ou personificação
A Estrela
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alto luzia?
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
                                   Manuel Bandeira
Notamos que ao dar voz à estrela (um ser inanimado com características humanas), o autor, na última estrofe, retrata de forma magistral o recurso em questão.
Eufemismo
Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.


                                                   Manuel Bandeira
Constatamos que Manuel Bandeira suaviza seu discurso por meio de um recurso denominado eufemismo, no intento de se referir à morte (demarcada pelo vocábulo “indesejada”). 
Estes foram apenas alguns dos recursos empregados na linguagem poética, os quais tendem a conferir maior ênfase à mensagem, tornando-a mais expressiva.
Por Vânia Maria do Nascimento Duarte  Fonte


Função expressiva das notações léxicas

Notações léxicas



Notações léxicas são os sinais gráficos que precisamos usar, obviamente na escrita, para representar alguns sons da fala, os fonemas (Para entender melhor sobre os fonemas, vá à aba ‘Fonética e Fonologia’ e acesse ‘Fonema’). O uso das tais notações torna-se necessário, principalmente (há ressalvas… saiba) pelo fato de as 26 letras “nuas” do nosso alfabeto não serem suficientes para representar todos os fonemas que somos capazes de produzir, por isso, precisamos de "vesti-las". Há também o fator lexical, a formação lexical. Acompanhemos a explicação para um melhor esclarecimento.

São notações oficiais da língua portuguesa:

Acento agudo (´) – usado para indicar a pronúncia aberta de uma vogal e para indicar a tonicidade da sílaba em que essa estiver (Sempre!).

     Ex.: café [ka’fé] = /é/ vogal anterior tônica aberta oral; /fé/ sílaba tônica


Acento circunflexo (^) – usado para indicar que a vogal deve ser pronunciada de maneira mais fechada e também para indicar SEMPRE a tonicidade da sílaba em que essa estiver.

     Ex.: tônica [‘tõnika] = /õ/ vogal posterior tônica fechada nasal; /tõ/ sílaba tônica


Acento grave (`) – o acento grave, na língua portuguesa, claro, vem sobre a vogal ‘a’ e apenas para indica a ocorrência de crase. Não sabe o que é crase? Uh... calma aí... espera um pouquinho que já veremos. É um caso à parte, sabe...? Ih! Juro que essa não foi intencional.

     Ex.: Fui à bienal do livro logo que acabei de escrever esta matéria. (fato)

A pronúncia nos casos de crase nunca muda: a vogal /a/ será sempre uma vogal anterior aberta oral.

Ah, por favor, pedido de amigo agora: não confunda a direção do acento: pra sua esquerda ACENTO GRAVE, pra sua direita ACENTO AGUDO. Sinto um aperto no coração quando leio frases escritas desta maneira: “fui á bienal num domingo”. Lembre-se: o acento que indica crase é canhoto… (sei lá! Macetes mnemônicos talvez funcionem. :P)

Til (~) – Vem apenas sobre a vogal /a/ e sobre a vogal /o/; indicando que essas vogais devem ser pronunciadas com uma ressonância nas fossas nasais; são nasalizadas.

     Ex.: pão [‘pãw] = /ã/ vogal posterior tônica NASAL   

              
     Obs.: a sílaba que tiver uma vogal o ou a nasalizada sob um til sempre será a tônica:
                    coração - notação - caminhão

               Só não será em duas situações:

          1- quando houver outro acento na palavra (´) (^), pois estes prevalecem sempre e anulam a possível tonicidade do til:
                     ímã – órfão.

          2- quando a palavra que tiver a sílaba nasalizada estiver num grau alterado:
                     coraçãozinho - caminhãozinho

Trema (¨) - Sinto muito... esses já não mais existem na língua portuguesa. Aparecem agora só em nomes estrangeiros. Puxa vida, eu gostava muito de usar os tremas.

Cedilha (͵) – por favor, meu caro, de uma vez por todas: não se diz “cê cedilha”; diz-se cê cedilhado!
A cedilha é o “rabinho” que aparece no grafema “C” quando este vem antes de /a/ /o/ e /u/ e tem som de “s” /s/.

     Ex.: dançou comendo paçoca e açúcar (que beleza...)
 


Apóstrofo (') – (apóstrofo, não ‘apóstrofe’ ou ‘apóstolo’) esse indica a supressão de um fonema, geralmente uma vogal. Bechara tem muito a dizer sobre o apóstrofo; se quiser saber mais, fala comigo. Os exemplos abaixo são os básicos.

     Ex.: mãe-dágua – pau-darco – galinha-dangola


Hífen (-) – vai me desculpar, mas esse também merece um capítulo específico. A matéria já tá enorme; se eu for explicar alguma coisa de hifenização vai ficar uma coisa terrível. Falarei sobre logo mais.

Para representar os fonemas, muitas vezes há necessidade de recorrer a sinais gráficos denominados notações léxicas.
Emprego do Til
    Til ( ~ )
    O til sobrepõe-se sobre as letras a e o para indicar vogal nasal.
    Pode aparecer em sílaba:
      Tônica: balão, corações, maçã
      Pretônica: balõezinhos, grã-fino
      Átona: órgão, bençãos

    Outros Exemplos:
      Capitães, limão, mamão, bobão, chorão, devoções, põem, etc.
    Observação:
    Se a sílaba onde figura o til for átona, acentua-se graficamente a sílaba predominante.
      Por Exemplo: Órfãos, acórdão
Emprego do Apóstrofo
Apóstrofo ( ´ )
O uso deste sinal gráfico pode:
a) Indicar a supressão de uma vogal nos versos, por exigências métricas. Ocorre principalmente entre poetas portugueses
Exemplos:
    esp´rança (esperança)
    minh'alma (minha alma)
    'stamos (estamos)
b) Reproduzir certas pronúncias populares
Exemplos:
    Olh'ele aí...(Guimarães Rosa)
    Não s'enxerga, enxerido! (Peregrino Jr.)
c) Indicar a supressão da vogal da preposição de em certas palavras compostas
Exemplos:
    copo d´água, estrela d'alva, caixa d'água

Questionário – Notações léxicas


Questionário – Notações léxicas
1) O que são notações léxicas ?
2) O que é léxico?
3) Com que objetivo se utiliza o acento agudo?
4) O que é crase? É um acento?
5) O que se indica mediante o acento grave?
6) Quando se emprega o acento grave?
7) Na língua portuguesa escrita, quantos acentos podem ocorrer em uma palavra?
8) Qual a função do til?
9) O que é cedilha?
10) Para que se utiliza o apóstrofo?
11) Quais as possibilidades de uso do hífen?

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Linguagem oral

Adequação da Linguagem ao Contexto


A redação deve ser um ato efetivo de comunicação. Por isso, ao escrever, você deverá levar em conta diversos fatores que determinam o tipo de texto a ser produzido.
Ao escrever, o emissor deverá ter em mente o contexto em que sua mensagem será produzida. Desse contexto, é importante salientar a finalidade do texto e o receptor a que ele se destina. A finalidade do texto
Você já sabe que, toda vez que o objetivo for simplesmente informar alguma coisa a alguém (como acontece nos jornais, nos textos técnicos, nos livros didáticos etc.), a função predominante da linguagem será a referencial. Entre os dois textos que seguem, o primeiro é o mais adequado para ser utilizado numa aula de geografia. Compare-os.
Texto 1
 
Brasília, sede administrativa do país, foi inaugurada pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, em 21 de abril de 1960, após 1000 dias de construção. Em 1987, foi tombada pela Unesco como patrimônio Cultural da Humanidade. (Folheto da Setur - Secretaria de Turismo do Distrito Federal)
 
Texto 2 ( Brasília: esplendor, por: Clarice Lispector)
Brasília é uma cidade abstrata. E não há como concretizá-la. É uma cidade redonda e sem esquinas. Também não tem botequim para a gente tomar um cafezinho. É verdade, juro que não vi esquinas. Em Brasília não existe cotidiano. A catedral pede a Deus. São duas mãos abertas para receber. Mas Niemeyer é um irônico: ele ironizou a vida. Ela é sagrada. Brasília é uma piada estritamente perfeita e sem erros. (...) Brasília é um futuro que aconteceu no passado.
Dependendo então, do seu objetivo como emissor, você escreverá um texto em que predomine função referencial, poética, emotiva, fática, metalinguística ou conativa.

O receptor a quem se destina o texto
 
Quando escrevemos, precisamos ter em mente, ainda que de forma genérica, o tipo de receptor a quem o nosso texto se destina. Descrever um hipopótamo para uma criança é diferente de fazê-lo para um zoológico. Narrar um jogo de futebol para um leigo é diferente de fazê-lo para um especialista no assunto.
Para tornar-se uma pessoa que se expressa bem em língua portuguesa, você precisa saber quando empregar o nível culto ou o coloquial da linguagem. Adequar o nível de linguagem ao contexto e ao receptor é, pois, requisito básico para se escrever bem. 

Fonte



terça-feira, 18 de setembro de 2012

Os gêneros textuais de cunho instrucional





Os gêneros textuais de cunho instrucional

 
Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já tivemos a oportunidade de recorrermos a algum manual de instrução, a uma bula de remédio, não é mesmo?

Na verdade, convivemos com uma infinidade de textos, mas em razão da correria do dia a dia, não nos atentamos para os detalhes que lhes são peculiares.

A questão da linguagem é um exemplo nítido desta ocorrência. Diante disso, daremos ênfase aos aspectos estruturais dos chamados textos instrucionais, os quais pertencem aos gêneros textuais, cuja finalidade do discurso é de instruir, orientar sobre algo.

Fazendo parte desta modalidade estão: regras de jogos, folhetos explicativos, instruções de provas, receitas culinárias, guias de cidades, entre outros.

No intento de fixarmos mais os nossos conhecimentos sobre o referido assunto, analisaremos um texto que retrata essa tipologia:

Empadas de Liquidificador


Ingredientes desta receita

- 3 ovos
- 1 xícara (chá) de óleo de soja
- 1 xícara (chá) de leite
- 1 xícara (chá) de requeijão
- 1 colher (sobremesa) de sal
- 3 xícaras (chá) de farinha de trigo

Modo de Preparo

Bata todos os ingredientes no liquidificador. Depois, unte as formas próprias para empadinhas, coloque massa até a metade e, em seguida, o que escolheu para o recheio, complete com a massa até cobrir todo o recheio. Antes de levá-las ao forno, arrume todas as formas em uma assadeira, uma ao lado da outra, e leve-as para assar em forno pré-aquecido, até que fiquem douradinhas. São fáceis de fazer e deliciosas!

Dica: Use o que preferir para rechear a empada: frango desfiadinho, cubinhos de queijo, cubinhos de presunto, pedacinhos de palmito.

Analisando os verbos, percebemos que os mesmos encontram-se no imperativo, pois é uma maneira de induzir o leitor a fazer algo. Desta forma, uma das características relevantes é a persuasão.

Quanto à linguagem, a mesma possui uma função apelativa, restringindo-se à objetividade e à clareza de ideias, assemelhando-se aos textos informativos de um modo geral.
Fonte: Brasil Escola
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras

Estruturação de textos dissertativos








A dissertação é uma modalidade de composição que visa análisar, ou comentar expositivamente conceitos ou ideias sobre um determinado assunto. Pode apresentar-se de forma expositiva ou argumentativa. Possui uma natureza reflexiva que consiste na ordenação dessas ideias a respeito de um determinado assunto contido em um uma frase-tema, um conjunto de textos verbais, não-verbais, ou até mesmo uma mescla de textos.
Ilustração
Dissertar é debater. Para discutirmos questões dos variados assuntos que a sociedade nos apresenta precisamos da Dissertação. Aquele que desenvolve uma dissertação é comumente denominado de Enunciador de ideias. Como enunciadores somos nós que desenvolvemos o texto dissertativo sem usar primeira pessoa, expressando o nosso ponto de vista para desenvolvê-lo com concisão e clareza. Essas ideias fundamentam nossa posição. É por isso que toda dissertação deve ser desenvolvida em terceira pessoa. Estabelecer nos parágrafos do desenvolvimento as relações de causa e consequência, contribui para um texto correto e conciso. Frases curtas, linguagem direta apresenta um texto com estrutura organizada e lógicidade de ideias.
Ilustração

A Estrutura do texto Dissertativo

São três as partes básicas de uma redação: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Isso necessariamente não quer dizer que uma dissertação tenha que ter três parágrafos. O mínimo de parágrafos lógicos seriam quatro e no máximo cinco, por se tratar de um texto para leitura rápida e concisa.
Na Introdução de texto dissertativo encontramos a delimitação de um tema, através de frases chamadas de argumentos, ou ideias secundárias, de uma ideia central que conhecemos como assunto, o assunto do tema que amarrará os parágrafos do desenvolvimento - sugestão ou duas, ou no máximo três;
No Desenvolvimento do texto dissertativo trabalharemos as frases ideias, ou argumentos observando a estrutura padrão de um parágrafo de desenvolvimento que apresentarei mais adiante, apresentando sua causa e consequência e exemplos sempre no fim parágrafo para mostrar harmonia;
A Conclusão no texto dissertativo também uma estrutura padrão, chega de inventar, até para finalizar um texto devemos seguir regras. Seguindo-as o resultado final da redação será primoroso.
Eis o Esquema Estrutural que poderá ajudá-lo a fazer sua dissertação:

Ilustração
Acima temos um modelo para uma redação com cinco parágrafos, abaixo segue o desenvolvimento de uma redação a partir do seguinte tema:
"ÁGUA, CULTURA E CIVILIZAÇÃO"
No mundo moderno, incrivelmente globalizado, ocorre uma tendência a valorização do lucro em detrimento a fatores de grande importância para a sobrevivência humana. Pois, a falta de água potável no futuro trará consequências hediondas. Mas, há uma cultura que pode ser formada através da educação ambiental nas escolas para as nossas crianças e, além do mais, descaso de nossos governantes aponta para uma civilização em crise e em processo de autodestruição.
Embora, o homem não tenha dado o valor devido à importância da água para sua subsistência. Estudiosos prevêem que daqui a 50 faltará água potável. Que ironia para o ser humano que vive em um planeta composto por 2/3 de água. Lembrando que 2% da água da terra é doce e o mais criminoso é que 5% dos 2% está poluída. Além da destruição de seu "habitat" natural, o aumento demográfico é absurdo, poluindo o que ainda resta, sem nenhuma ação governamental para conter esta realidade terrível e inevitável.
Ainda com a falta de políticas públicas, contribuindo para esse descaso. Sem um processo de Educação Ambiental nada pode ser feito contra essa escassez. Preparar a cultura dos herdeiros da terra para essa mudança de postura, já entranhada dentro de nossos governantes que por não terem interesses políticos nada fazem, é essencial.
Mesmo, diante dessas grandes civilizações que dominam o planeta, algumas que surgiram, ou tem como modelo, se organizarem perto dos grandes rios como vemos o Tigre, Eufrates, Amarelo, Nilo, Mississipi, Rio Grande, Amazonas e outros. Não foi mera coincidência, antes sim suas necessidades de vitalidade e de preservação de suas espécies. A água é vital para todos os seres vivos, é usada em rituais desde a antiguidade. Logo pode existir a humanidade sem seu líquido precioso que é a água.
Assim, esse bem tão precioso, que para alguns pensadores da Grécia Antiga foi o princípio de tudo, só terá relevância, com preocupação no âmbito mundial, quando a catástrofe estiver pronta. Todos os dias os avisos são dados, com a natureza se rebelando, pó enquanto são os outros seres que estão entrando em extinção. Quando chegar a vez do bicho homem, só assim, ele irá se preocupar, mas já será tarde demais.

Outros temas:

1. Prova de Redação do Enem 2006

Ilustração

2. Temas (Frases)

"Quem decide pode errar: quem não decide já errou".
"O outro nome da paz é justiça".
"A capacidade de ouvir o adversário da à medida do amor a liberdade".
Lembre-se que o Ponto de vista é a mágica da redação. É a primeira frase para iniciar a delimitação do tema. Aquela que vem em primeiro lugar na sua mente. Está presente em seu pensamento após ler qualquer texto. É a primeira ideia que você tem do assunto. Supondo que você fosse dissertar sobre um tema simples e comum que todos usam para explicar ponto de vista. "A TELEVISÃO".
Ilustração
O que geralmente chamamos de ideias são pontos de visão do tema, que inseridos em uma frase servem como frase inicial. A primeira frase para iniciar o primeiro parágrafo O Ponto de Vista. O Ponto de Vista depende de sua capacidade de leitura e absorção de ideias, conhecimentos. Quanto mais informação você tem melhor para desenvolver e expor suas ideias na forma escrita. É por isso que eu sempre afirmei para meus alunos e agora na internet me permitam finalizar com a minha eterna frase. Fonte
"Só se escreve sobre aquilo que se conhece. - Robson Moura".

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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Crônicas - Leitura

Do rock

Carlos Heitor Cony

Tocam a campainha e há um estrondo em meus ouvidos. A empregada estava de folga, o remédio era atender o mau-caráter que me batia à porta àquela hora da manhã. Vejo o camarada do bigodinho com o embrulho largo e enfeitado.
— É aqui que mora a senhorita Regina Celi?
Digo que não e fulmino o importuno com um olhar cheio de ódio e sono, mas antes de fechar a porta sinto alguma coisa de íntimo naquele “senhorita Regina Celi”, sim, há uma Regina Celi em minha casa, minha própria filha, mas apenas de 12 anos, uma guria bochechuda ainda, não merecia o título e a função de senhorita.
Chamo o homem que já estava no elevador. Eram CDs, a garota encomendara um mundão de CDs numa loja próxima, e pedira que mandassem as novidades, pois as novidades estavam ali, embrulhadinhas e com a nota fiscal bem às claras.
Gemo surdamente na hora de assinar o cheque e recebo o embrulho. A garota dormia impune, o mundo podia desabar, e ninguém a despertaria do sono 12 anos. Deixo o embrulho em cima do som e volto para a cama, forçar o sono e a tranquilidade interior, abalada pelo cheque tão matutino e fora de propósito. Quando ordeno os pensamentos e ambições no estreito espaço do meu pensamento e retomo um sono e um sonho sem cor nem gosto, começa o rock.
Anos atrás, seria começa o beguine. Mas o beguine passou de moda, e o swing, o mambo, o baião e outras pragas vindas de alheias e próprias pragas. Pois aí estava o rock, matinal, cor de sangue e metal inundando o dia e o quarto com sua voz rouca, seu compasso monótono e histérico.
Purgo honestamente meus pecados e lembro o pai, que me aturava a mania pelos sambas de Ary Barroso. O velho não dizia nada, mas me olhava fundo e talvez tivesse ganas de me esganar. Mas me aturava e aturava o meu Brasil brasileiro.
Hoje, aturo o rock. Vou ao banheiro, lavo o rosto, visto um short e vou para a sala disposto a causar boa impressão à senhorita Regina Celi, que de babydoll, esbaforida, se degringola ao som de U2.
O tapete já fora arrastado e amarfanhado a um canto. Meu castiçal de prata foi profanado com a cara de um tipo até simpático que naquela manhã ganhará alguma coisa à custa do meu labor e cheque.
A senhorita Regina Celi tem a cara afogueada, os pés e as pernas avançam e ficam no mesmo lugar, o corpo todo treme e sua, até que ela me estende o braço.
— Vem, papai!
O peso dos meus invernos e minhas banhas causa breve hesitação. Mas ali estamos, eu e a senhorita Regina Celi, uma menina que ainda pego no colo e aqueço com meu amor e o meu carinho, quando ela tem medo do mundo ou de não saber os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas na hora do exame. Ela me chama e me perdoa.
Então, aumento o volume do som, espero o tal do U2 dar um grito histérico e medonho - e esqueço o cheque, a vida e a faina humana rebolando este cansado corpo-pasto de espantos - até que o fôlego e o U2 acabem na manhã e no som.

Crônicas para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009


 Cobrança


Moacyr Scliar

Ela abriu a janela e ali estava ele, diante da casa, caminhando de um lado para outro. Carregava um cartaz, cujos dizeres atraíam a atenção dos passantes: "Aqui mora uma devedora inadimplente".
― Você não pode fazer isso comigo ― protestou ela.
― Claro que posso ― replicou ele. ― Você comprou, não pagou. Você é uma devedora inadimplente. E eu sou cobrador. Por diversas vezes tentei lhe cobrar, você não pagou.
― Não paguei porque não tenho dinheiro. Esta crise...
― Já sei ― ironizou ele. ― Você vai me dizer que por causa daquele ataque lá em Nova York seus negócios ficaram prejudicados. Problema seu, ouviu? Problema seu. Meu problema é lhe cobrar. E é o que estou fazendo.
― Mas você podia fazer isso de uma forma mais discreta...
― Negativo. Já usei todas as formas discretas que podia. Falei com você, expliquei, avisei. Nada. Você fazia de conta que nada tinha a ver com o assunto. Minha paciência foi se esgotando, até que não me restou outro recurso: vou ficar aqui, carregando este cartaz, até você saldar sua dívida.
Neste momento começou a chuviscar.
― Você vai se molhar ― advertiu ela. ― Vai acabar ficando doente.
Ele riu, amargo:
― E daí? Se você está preocupada com minha saúde, pague o que deve.
― Posso lhe dar um guarda-chuva...
― Não quero. Tenho de carregar o cartaz, não um guarda-chuva.
Ela agora estava irritada:
― Acabe com isso, Aristides, e venha para dentro. Afinal, você é meu marido, você mora aqui.
― Sou seu marido ― retrucou ele ― e você é minha mulher, mas eu sou cobrador profissional e você é devedora. Eu avisei: não compre essa geladeira, eu não ganho o suficiente para pagar as prestações. Mas não, você não me ouviu. E agora o pessoal lá da empresa de cobrança quer o dinheiro. O que quer você que eu faça? Que perca meu emprego? De jeito nenhum. Vou ficar aqui até você cumprir sua obrigação.
Chovia mais forte, agora. Borrada, a inscrição tornara-se ilegível. A ele, isso pouco importava: continuava andando de um lado para outro, diante da casa, carregando o seu cartaz.

O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001

Literatura em Língua Portuguesa na África

A Literatura na África



A variedade de línguas faladas na África, tornou sua literatura altamente diversificada.

John Maxwell, por exemplo, ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 2003, escreveu livros traduzidos para o português e editados e publicados no Brasil. Escreve ficção entre seus livros estão "Diário de um Ano Ruim" e à Espera dos Bárbaros.
J. R. R. Tolkien, nascido em Bloemfontein, autor de O Senhor dos Anéis e O Hobbit também é um dos grandes nomes da Literatura Africana.

Outros escritores como Nadine prefere escrever sobre o Apartheid, regime político pelo qual os brancos detinham o poder sobre os negros.
Vonani fez suas obras circularem entre obras de poetas que eram marginalizados. Vonani Bila faz críticas a escritores que trabalham escrevendo artigos para o governo, onde diz que são pagos para falarem dos rótulos governamentais, se colocando contra esse tipo de literatura que faz do leitor um fantoche.
Já a literatura africana de expressão portuguesa começou quando os portugueses se expandiram nas descobertas de África.

Em 1849 na Angola, José Maia Ferreira marcou o início da literatura da angola de língua portuguesa com o seu livro de poemas "Espontaneidades da Minha Alma"
A África do Sul dispõe de um museu literário, que iniciou suas atividades em 1972, a fim de promover aos sul-africanos uma boa leitura onde recolhem e conservam as obras literárias, bem como outros materiais referentes a essa literatura, como poesias, peças de teatro, romances, contos, diários, memórias e livros infantis.

Obviamente que a literatura africana é vasta e as informações são as mais diversas, por isso deixo aqui uma lista de sites para quem quiser aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, pois o que ficou dito aqui foi um pouco sobre a literatura de todo seu continente.


Fonte

Fontes e Referências:
http://www.ueangola.com/
http://www.africaresearch.info
http://www.africanlit.org/
http://www.diaadia.pr.gov.br/temasatuais/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=446
http://african.lss.wisc.edu


A Literatura e a Língua Portuguesa na África

A história da língua portuguesa inicia-se na África em 1415, quando os portugueses atravessaram o Estreito de Gibraltar a fim de cercarem Ceuta, no norte de Marrocos. Os portugueses foram os primeiros europeus a se estabelecerem no continente africano. Com a presença portuguesa na África, parte da população africana se comunicava numa língua de base portuguesa, denominado como pidgin. Quando o pidgin alcançava a condição de língua materna, visto que não se configurava como língua-mãe, passava a ser chamado de crioulo. O crioulo sofreu influência de algumas línguas indígenas e por esse fato notava-se a diferença (alteração) do português falado nas ex-colônias. Nessas regiões, o português falado esteve sujeito a uma crioulização. Dentre os países que se comunicam em língua portuguesa, podemos destacar Angola e Moçambique, como os países que possuem mais falantes de português, mesmo após de terem alcançado a independência no ano de 1975. O português tem se expandindo atualmente, sendo considerado para alguns como única língua, explicando o fato de haver uma literatura africana de língua portuguesa.
As colônias dominadas pelos portugueses sofreram com o processo da prática de assimilação. Nessa prática, a população colonizada teria que abandonar a sua cultura e aprender todos os costumes dos colonizadores. Através desse processo de assimilação, os "colonizados aculturados" ganhavam visão de mundo e começavam a refletir sobre a conduta que era imposta pelos portugueses. Dessa forma, foram surgindo militantes em prol do seu povo e também os escritores, que viam na literatura a forma de expressar a cultura do seu povo, a opressão sofrida, os desejos, os sonhos e a busca pela liberdade. Em Luanda e Lourenço Marques, a maioria dos escritores da época fazia parte do Movimento Popular de Libertação de Angola ( MPLA) e a Frente de Libertação de Moçambique ( FRELIMO), com isso muitas obras tinham como objetivo a reivindicação cultural, protesto social e uma crescente combatividade. Dentre os novos intelectuais de Angola, que são os escritores que constituíam a Geração de 1950, podemos destacar José Luandino Vieira, com a publicação de "A cidade e a infância", sendo que foram apreendidos pela polícia os exemplares desse livro, e Agostinho Neto, com a publicação de "Havemos e voltar", poema bastante nacionalista, na busca da sua identidade. Luandino Vieira e Agostinho Neto na resistência contra o colonialismo. A independência serviu para que os escritores sentissem a liberdade de expressão, tendo como resultado a produção de obras menos panfletárias ou pelo menos com maior rigor formal. Nesse período pós-colonial, a literatura ganhava vez e novos escritores foram se destacando, dentre eles podemos mencionar: Manuel Rui, com a publicação de Onze poemas em novembro, Pepetela com a publicação de A geração da utopia , lhe garantido o prêmio Camões, José Craveirinha ( Prêmio Camões), Mia Couto, Manuel dos Santos Lima, Henrique Abranches, Corsino Fortes, João Varela, Germano Almeida, edições de Luandino Vieira e etc.
As literaturas africanas de língua portuguesa começaram a se destacar enquanto se encaminhava para a independência, porém alguns escritores sofreram com as suas publicações, até mesmo foram presos por se expressarem na luta contra o colonialismo. Após a independência, o clima de liberdade era aspirado aos poucos e novos escritores tomavam a vez na literatura. Apesar de ser recente, visto que a independência ocorreu em 1975 para Angola e Moçambique, um avanço foi dado na literatura e o reconhecimento está sendo feito aos poucos, não somente na África, como o devido reconhecimento por parte do Brasil, com a regularização do ensino nas escolas como disciplina de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Poemas, poesias, novelas, traduzem em palavras o que é a luta de um povo oprimido e que por muitos anos estiveram a mercê de uma outra cultura, de uma outra pátria. A independência foi apenas um passo, proporcionou muitas descobertas e excelentes escritores estão surgindo. É uma literatura diferente, literatura especial, que mostra as " amarras" de muitos anos, que não existem mais.


Descrição e Narração

Descrição

Descrever é CARACTERIZAR alguém, alguma coisa ou algum lugar através de características que particularizem o caracterizado em relação aos outros seres da sua espécie. Descrever, portanto, é também particularizar um ser. É "fotografar" com palavras. No texto descritivo, por isso, os tipos de verbos mais adequados (mais comuns) são os VERBOS DE LIGAÇÃO (SER, ESTAR, PERMANECER, FICAR, CONTINUAR, TER, PARECER, etc.), pois esses tipos de verbos ligam as características - representadas linguisticamente pelos ADJETIVOS - aos seres caracterizados - representados pelos SUBSTANTIVOS.
Exemplo: O pássaro é azul.
1- Caracterizado: pássaro
2- Caracterizador ou característica: azul
O verbo que liga 1 com 2 : é
Num texto descritivo podem ocorrer tanto caracterizações objetivas (físicas, concretas), quanto subjetivas (aquelas que dependem do ponto de vista de quem descreve e que se referem às características não-físicas do caracterizado). Exemplos: Paulo está pálido (caracterização objetiva), mas lindo! (caracterização subjetiva).


Narração:
Narrar é contar um fato, um episódio; todo discurso em que algo é CONTADO possui os seguintes elementos, que fatalmente surgem conforme um fato vai sendo narrado:
onde ?

quando? ↔ FATO ↔ com quem?

como?
A representação acima quer dizer que, todas as vezes que uma história é contada (é NARRADA), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a AÇÃO: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, maioria dos VERBOS que compõem esse tipo de texto são os VERBOS DE AÇÃO. O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de texto, recebe o nome de ENREDO.
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas PERSONAGENS, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio que está sendo contado ("com quem?" do quadro acima). As personagens são identificadas (=nomeadas) no texto narrativo pelos SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS.
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem querer) ele acaba contando "onde" (= em que lugar) as ações do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre uma ação ou ações é chamado de ESPAÇO, representado no texto pelos ADVÉRBIOS DE LUGAR.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer "quando" ocorreram as ações da história. Esse elemento da narrativa é o TEMPO, representado no texto narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente pelos ADVÉRBIOS DE TEMPO. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor "como" o fato narrado aconteceu. A história contada, por isso, passa por uma INTRODUÇÃO (parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo DESENVOLVIMENTO do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o "miolo" da narrativa, também chamada de trama) e termina com a CONCLUSÃO da história (é o final ou epílogo). Aquele que conta a história é o NARRADOR, que pode ser PESSOAL (narra em 1ª pessoa: EU...) ou IMPESSOAL (narra em 3ª pessoa: ELE...). Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada.

Fonte

Dissertação

DISSERTAÇÃO.
Dissertar é refletir, debater, discutir, questionar a respeito de um determinado tema, expressando o ponto de vista de quem escreve em relação a esse tema. Dissertar, assim, é emitir opiniões de maneira convincente, ou seja, de maneira que elas sejam compreendidas e aceitas pelo leitor; e isso só acontece quando tais opiniões estão bem fundamentadas, comprovadas, explicadas, exemplificadas, em suma: bem ARGUMENTADAS (argumentar = convencer, influenciar, persuadir). A argumentação é o elemento mais importante de uma dissertação.
Embora dissertar seja emitir opiniões, o ideal é que o seu autor coloque no texto seus pontos de vista como se não fossem dele e sim, de outra pessoa (de prestígio, famosa, especialista no assunto, alguém...), ou seja, de maneira IMPESSOAL, OBJETIVA e sem prolixidade ("encher lingüiça"): que a dissertação seja elaborada com VERBOS E PRONOMES EM TERCEIRA PESSOA. O texto impessoal soa como verdade e, como já citado, fazer crer é um dos objetivos de quem disserta.
Na dissertação, as idéias devem ser colocadas de maneira CLARA E COERENTE e organizadas de maneira LÓGICA:
a) o elo de ligação entre pontos de vista e argumento se faz de maneira coerente e lógica através das CONJUNÇÕES (= conectivos) - coordenativas ou subordinativas, dependendo da idéia que se queira introduzir e defender; é por isso que as conjunções são chamadas de MARCADORES ARGUMENTATIVOS.
b) todo texto dissertativo é composto por três partes coesas e coerentes: INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO.
A introdução é a parte em que se dá a apresentação do tema, através de um CONCEITO (e conceituar é GENERALIZAR, ou seja, é dizer o que um referente tem em comum em relação aos outros seres da sua espécie) ou através de QUESTIONAMENTO(s) que ele sugere, que deve ser seguido de um PONTO DE VISTA e de seu ARGUMENTO PRINCIPAL. Para que a introdução fique perfeita, é interessante seguir esses passos:
- Transforme o tema numa pergunta;
- Responda a pergunta (e obtém-se o PONTO DE VISTA);
- Coloque o porquê da resposta ( e obtém-se o ARGUMENTO).
O desenvolvimento contém as idéias que reforçam o argumento principal, ou seja, os ARGUMENTOS AUXILIARES e os FATOS - EXEMPLOS (verdadeiros, reconhecidos publicamente).
A conclusão é a parte final da redação dissertativa, onde o seu autor deve "amarrar" resumidamente (se possível, numa frase) todas as idéias do texto para que o PONTO DE VISTA inicial se mostre irrefutável, ou seja, seja imposto e aceito como verdadeiro.
Antes de iniciar a dissertação, no entanto, é preciso que seu autor:
1. Entenda bem o tema;
2. Reflita a respeito dele;
3. Passe para o papel as idéias que o tema lhe sugere;
4. Faça a organização textual (o "esqueleto do texto"), pois a quantidade de idéias sugeridas pelo tema é igual a quantidade de parágrafos que a dissertação terá no DESENVOLVIMENTO do texto.

Fonte

Redação Nota Dez - Enem

O futuro já começou

A consciência de que o ser humano pode corrigir aquilo que lhe é prejudicial determina para muitos que o fim do mundo não está próximo. Há quem diga que é da natureza humana distorcer informações para obter as conclusões desejadas. Para esses, os cientistas são muito pessimistas sobre o futuro da humanidade, anunciando que o aquecimento global, decorrente do efeito estufa e o desflorestamento, vão nos matar em poucas décadas.
A visão apocalíptica do momento é o aquecimento global. Sabe-se que o planeta ficou um grau Celsius mais quente no último século e que, se o ritmo das agressões ambientais não regredir, a temperatura subirá ainda mais com conseqüências dramáticas para o nosso planeta.
Sabe-se, ainda, que o aquecimento da Terra é um fato real e incontestável. Infelizmente não se trata de distorção com a finalidade de criar um clima de fim dos tempos. Equivocam-se, portanto, aqueles que atribuem demasiado pessimismo aos cientistas. Pensando desse modo alienam-se e deixam de fazer a parte que cabe a cada cidadão na grande tarefa coletiva de preservação do ambiente.
Verdade que não é esta a primeira vez que se fala em perigo iminente para a continuidade da vida na Terra. É da natureza humana um certo grau de atração por catástrofes fato que explica o grande sucesso de filmes onde cidades inteiras desaparecem ou o mundo simplesmente acaba. Além disso, são muitos os episódios reais em que populações foram amedrontadas pela possibilidade do fim do mundo, um deles no início do século 20 quando o cometa Haley se aproximou da Terra e pensou-se que se chocaria contra ela.
Sendo assim, pode-se dizer que, talvez, pelo uso constante de temas apocalípticos em obras de ficção, muita gente não leve a sério as atuais ameaças à continuidade da vida na Terra. Entretanto é hora de separar a ficção da realidade e agir. De nada nos adianta acreditar que somos capazes de corrigir o que nos é prejudicial se não nos propusermos a fazer alguma coisa em relação ao que nos prejudica.

Comentário

O aluno possui um bom estilo; demonstra domínio da norma culta da língua escrita; desenvolve o tema adequadamente. Além disso, consegue fazer uma organização prévia de raciocínio, apresentar clareza, coerência e objetividade na exposição das idéias e elaborar uma proposta de solução para o problema abordado.

Competências avaliadas

Competência Nota
1. Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita. 2,0
2. Compreender a proposta da redação e aplicar conceito das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. 2,0
3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. 2,0
4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos lingüísticos necessários para a construção da argumentação. 2,0
5. Elaborar a proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. 2,0
Total 10,0

Desempenho do aluno em cada competência

Nota 2,0 - Satisfatório Nota 0,5 - Fraco
Nota 1,5 - Bom Nota 0,0 - Insatisfatório
Nota 1,0 - Regular  Fonte
















quarta-feira, 12 de setembro de 2012

4º Bimestre Leitura e Análise Textual

Doutor Advogado e Doutor Médico: até quando?

Por que o uso da palavra “doutor” antes do nome de advogados e médicos ainda persiste entre nós? E o que ela revela do Brasil?

ELIANE BRUM|
Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista (Foto: ÉPOCA)
Sei muito bem que a língua, como coisa viva que é, só muda quando mudam as pessoas, as relações entre elas e a forma como lidam com o mundo. Poucas expressões humanas são tão avessas a imposições por decreto como a língua. Tão indomável que até mesmo nós, mais vezes do que gostaríamos, acabamos deixando escapar palavras que faríamos de tudo para recolher no segundo seguinte. E talvez mais vezes ainda pretendêssemos usar determinado sujeito, verbo, substantivo ou adjetivo e usamos outro bem diferente, que revela muito mais de nossas intenções e sentimentos do que desejaríamos. Afinal, a psicanálise foi construída com os tijolos de nossos atos falhos. Exerço, porém, um pequeno ato quixotesco no meu uso pessoal da língua: esforço-me para jamais usar a palavra “doutor” antes do nome de um médico ou de um advogado.  
Travo minha pequena batalha com a consciência de que a língua nada tem de inocente. Se usamos as palavras para embates profundos no campo das ideias, é também na própria escolha delas, no corpo das palavras em si, que se expressam relações de poder, de abuso e de submissão. Cada vocábulo de um idioma carrega uma teia de sentidos que vai se alterando ao longo da História, alterando-se no próprio fazer-se do homem na História. E, no meu modo de ver o mundo, “doutor” é uma praga persistente que fala muito sobre o Brasil. Como toda palavra, algumas mais do que outras, “doutor” desvela muito do que somos – e é preciso estranhá-lo para conseguirmos escutar o que diz. 
Assim, minha recusa ao “doutor” é um ato político. Um ato de resistência cotidiana, exercido de forma solitária na esperança de que um dia os bons dicionários digam algo assim, ao final das várias acepções do verbete “doutor”: “arcaísmo: no passado, era usado pelos mais pobres para tratar os mais ricos e também para marcar a superioridade de médicos e advogados, mas, com a queda da desigualdade socioeconômica e a ampliação dos direitos do cidadão, essa acepção caiu em desuso”.  
Em minhas aspirações, o sentido da palavra perderia sua força não por proibição, o que seria nada além de um ato tão inútil como arbitrário, na qual às vezes resvalam alguns legisladores, mas porque o Brasil mudou. A língua, obviamente, só muda quando muda a complexa realidade que ela expressa. Só muda quando mudamos nós. 
Historicamente, o “doutor” se entranhou na sociedade brasileira como uma forma de tratar os superiores na hierarquia socioeconômica – e também como expressão de racismo. Ou como a forma de os mais pobres tratarem os mais ricos, de os que não puderam estudar tratarem os que puderam, dos que nunca tiveram privilégios tratarem aqueles que sempre os tiveram. O “doutor” não se estabeleceu na língua portuguesa como uma palavra inocente, mas como um fosso, ao expressar no idioma uma diferença vivida na concretude do cotidiano que deveria ter nos envergonhado desde sempre.  
Lembro-me de, em 1999, entrevistar Adail José da Silva, um carregador de malas do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para a coluna semanal de reportagem que eu mantinha aos sábados no jornal Zero Hora, intitulada “A Vida Que Ninguém Vê”. Um trecho de nosso diálogo foi este: 

- E como os fregueses o chamam?
- Os doutor me chamam assim, ó: “Ô, negão!” Eu acho até que é carinhoso.

- O senhor chama eles de doutor?
- Pra mim todo mundo é doutor. Pisou no aeroporto é doutor. É ó, doutor, como vai, doutor, é pra já, doutor....

- É esse o segredo do serviço?
- Tem que ter humildade. Não adianta ser arrogante. Porque, se eu fosse um cara importante, não ia tá carregando a mala dos outros, né? Sou pé de chinelo. Então, tenho que me botar no meu lugar.

A forma como Adail via o mundo e o seu lugar no mundo – a partir da forma como os outros viam tanto ele quanto seu lugar no mundo – contam-nos séculos de História do Brasil. Penso, porém, que temos avançado nas últimas décadas – e especialmente nessa última. O “doutor” usado pelo porteiro para tratar o condômino, pela empregada doméstica para tratar o patrão, pelo engraxate para tratar o cliente, pelo negro para tratar o branco não desapareceu – mas pelo menos está arrefecendo. 
Se alguém, especialmente nas grandes cidades, chamar hoje o outro de “doutor”, é legítimo desconfiar de que o interlocutor está brincando ou ironizando, porque parte das pessoas já tem noção da camada de ridículo que a forma de tratamento adquiriu ao longo dos anos. Essa mudança, é importante assinalar, reflete também a mudança de um país no qual o presidente mais popular da história recente é chamado pelo nome/apelido. Essa contribuição – mais sutil, mais subjetiva, mais simbólica – que se dá explicitamente pelo nome, contida na eleição de Lula, ainda merece um olhar mais atento, independentemente das críticas que se possa fazer ao ex-presidente e seu legado. 
Se o “doutor” genérico, usado para tratar os mais ricos, está perdendo seu prazo de validade, o “doutor” que anuncia médicos e advogados parece se manter tão vigoroso e atual quanto sempre. Por quê? Com tantas mudanças na sociedade brasileira, refletidas também no cinema e na literatura, não era de se esperar um declínio também deste doutor? 
Ao pesquisar o uso do “doutor” para escrever esta coluna, deparei-me com artigos de advogados defendendo que, pelo menos com relação à sua própria categoria, o uso do “doutor” seguia legítimo e referendado na lei e na tradição. O principal argumento apresentado para defender essa tese estaria num alvará régio no qual D. Maria, de Portugal, mais conhecida como “a louca”, teria outorgado o título de “doutor” aos advogados. Mais tarde, em 1827, o título de “doutor” teria sido assegurado aos bacharéis de Direito por um decreto de Dom Pedro I, ao criar os primeiros cursos de Ciências Jurídicas e Sociais no Brasil. Como o decreto imperial jamais teria sido revogado, ser “doutor” seria parte do “direito” dos advogados. E o título teria sido “naturalmente” estendido para os médicos em décadas posteriores. 
Há, porém, controvérsias. Em consulta à própria fonte, o artigo 9 do decreto de D. Pedro I diz o seguinte: “Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos Cursos, com aprovação, conseguirão o grau de Bacharéis formados. Haverá também o grau de Doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e só os que o obtiverem, poderão ser escolhidos para Lentes”. Tomei a liberdade de atualizar a ortografia, mas o texto original pode ser conferido aqui. “Lente” seria o equivalente hoje à livre-docente. 
Mesmo que Dom Pedro I tivesse concedido a bacharéis de Direito o título de “doutor”, o que me causa espanto é o mesmo que, para alguns membros do Direito, garantiria a legitimidade do título: como é que um decreto do Império sobreviveria não só à própria queda do próprio, mas também a tudo o que veio depois? 
O fato é que o título de “doutor”, com ou sem decreto imperial, permanece em vigor na vida do país. Existe não por decreto, mas enraizado na vida vivida, o que torna tudo mais sério. A resposta para a atualidade do “doutor” pode estar na evidência de que, se a sociedade brasileira mudou bastante, também mudou pouco. A resposta pode ser encontrada na enorme desigualdade que persiste até hoje. E na forma como essas relações desiguais moldam a vida cotidiana. 
É no dia a dia das delegacias de polícia, dos corredores do Fórum, dos pequenos julgamentos que o “doutor” se impõe com todo o seu poder sobre o cidadão “comum”. Como repórter, assisti à humilhação e ao desamparo tanto das vítimas quanto dos suspeitos mais pobres à mercê desses doutores, no qual o título era uma expressão importante da desigualdade no acesso à lei. No início, ficava estarrecida com o tratamento usado por delegados, advogados, promotores e juízes, falando de si e entre si como “doutor fulano” e “doutor beltrano”. Será que não percebem o quanto se tornam patéticos ao fazer isso?, pensava. Aos poucos, percebi a minha ingenuidade. O “doutor”, nesses espaços, tinha uma função fundamental: a de garantir o reconhecimento entre os pares e assegurar a submissão daqueles que precisavam da Justiça e rapidamente compreendiam que a Justiça ali era encarnada e, mais do que isso, era pessoal, no amplo sentido do termo. 
No caso dos médicos, a atualidade e a persistência do título de “doutor” precisam ser compreendidas no contexto de uma sociedade patologizada, na qual as pessoas se definem em grande parte por seu diagnóstico ou por suas patologias. Hoje, são os médicos que dizem o que cada um de nós é: depressivo, hiperativo, bipolar, obeso, anoréxico, bulímico, cardíaco, impotente, etc. Do mesmo modo, numa época histórica em que juventude e potência se tornaram valores – e é o corpo que expressa ambas – faz todo sentido que o poder médico seja enorme. É o médico, como manipulador das drogas legais e das intervenções cirúrgicas, que supostamente pode ampliar tanto potência quanto juventude. E, de novo supostamente, deter o controle sobre a longevidade e a morte. A ponto de alguns profissionais terem começado a defender que a velhice é uma “doença” que poderá ser eliminada com o avanço tecnológico.  
O “doutor” médico e o “doutor” advogado, juiz, promotor, delegado têm cada um suas causas e particularidades na história das mentalidades e dos costumes. Em comum, o doutor médico e o doutor advogado, juiz, promotor, delegado têm algo significativo: a autoridade sobre os corpos. Um pela lei, o outro pela medicina, eles normatizam a vida de todos os outros. Não apenas como representantes de um poder que pertence à instituição e não a eles, mas que a transcende para encarnar na própria pessoa que usa o título.  
Se olharmos a partir das relações de mercado e de consumo, a medicina e o direito são os únicos espaços em que o cliente, ao entrar pela porta do escritório ou do consultório, em geral já está automaticamente numa posição de submissão. Em ambos os casos, o cliente não tem razão, nem sabe o que é melhor para ele. Seja como vítima de uma violação da lei ou como autor de uma violação da lei, o cliente é sujeito passivo diante do advogado, promotor, juiz, delegado. E, como “paciente” diante do médico, como abordei na coluna anterior, deixa de ser pessoa para tornar-se objeto de intervenção. 
Num país no qual o acesso à Justiça e o acesso à Saúde são deficientes, como o Brasil, é previsível que tanto o título de “doutor” permaneça atual e vigoroso quanto o que ele representa também como viés de classe. Apesar dos avanços e da própria Constituição, tanto o acesso à Justiça quanto o acesso à Saúde permanecem, na prática, como privilégios dos mais ricos. As fragilidades do SUS, de um lado, e o número insuficiente de defensores públicos de outro são expressões dessa desigualdade. Quando o direito de acesso tanto a um quanto a outro não é assegurado, a situação de desamparo se estabelece, assim como a subordinação do cidadão àquele que pode garantir – ou retirar – tanto um quanto outro no cotidiano. Sem contar que a cidadania ainda é um conceito mais teórico do que concreto na vida brasileira. 
Infelizmente, a maioria dos “doutores” médicos e dos “doutores” advogados, juízes, promotores, delegados etc estimulam e até exigem o título no dia a dia. E talvez o exemplo público mais contundente seja o do juiz de Niterói (RJ) que, em 2004, entrou na Justiça para exigir que os empregados do condomínio onde vivia o chamassem de “doutor”. Como consta nos autos, diante da sua exigência, o zelador retrucava: “Fala sério....” Não conheço em profundidade os fatos que motivaram as desavenças no condomínio – mas é muito significativo que, como solução, o juiz tenha buscado a Justiça para exigir um tratamento que começava a lhe faltar no território da vida cotidiana. 
É importante reconhecer que há uma pequena parcela de médicos e advogados, juízes, promotores, delegados etc que tem se esforçado para eliminar essa distorção. Estes tratam de avisar logo que devem ser chamados pelo nome. Ou por senhor ou senhora, caso o interlocutor prefira a formalidade – ou o contexto a exija. Sabem que essa mudança tem grande força simbólica na luta por um país mais igualitário e pela ampliação da cidadania e dos direitos. A estes, meu respeito.  
Resta ainda o “doutor” como título acadêmico, conquistado por aqueles que fizeram doutorado nas mais diversas áreas. No Brasil, em geral isso significa, entre o mestrado e o doutorado, cerca de seis anos de estudo além da graduação. Para se doutorar, é preciso escrever uma tese e defendê-la diante de uma banca. Neste caso, o título é – ou deveria ser – resultado de muito estudo e da produção de conhecimento em sua área de atuação. É também requisito para uma carreira acadêmica bem sucedida – e, em muitas universidades, uma exigência para se candidatar ao cargo de professor.
Em geral, o título só é citado nas comunicações por escrito no âmbito acadêmico e nos órgãos de financiamento de pesquisas, no currículo e na publicação de artigos em revistas científicas e/ou especializadas. Em geral, nenhum destes doutores é assim chamado na vida cotidiana, seja na sala de aula ou na padaria. E, pelo menos os que eu conheço, caso o fossem, oscilariam entre o completo constrangimento e um riso descontrolado. Não são estes, com certeza, os doutores que alimentam também na expressão simbólica a abissal desigualdade da sociedade brasileira.
Estou bem longe de esgotar o assunto aqui nesta coluna. Faço apenas uma provocação para que, pelo menos, comecemos a estranhar o que parece soar tão natural, eterno e imutável – mas é resultado do processo histórico e de nossa atuação nele. Estranhar é o verbo que precede o gesto de mudança. Infelizmente, suspeito de que “doutor fulano” e “doutor beltrano” terão ainda uma longa vida entre nós. Quando partirem desta para o nunca mais, será demasiado tarde. Porque já é demasiado tarde – sempre foi.

Eliane Brum escreve às segundas-feiras.


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