Pequenas Criaturas, apesar de não haver na capa referência a isso, é um livro de contos. Quando pedi que me oferecessem, julgava tratar-se de um romance. Só quando o tive em mãos me apercebi do engano. Contudo, aquilo que poderia ser desilusão, acabou por se revelar antes uma agradável surpresa.
Primeiramente, há que fazer jus à capa e ao título, que são, quanto a mim, ambos muito belos. Para tornar a “embalagem” ainda melhor, o conteúdo não desilude – antes pelo contrário.
O livro tem bastantes contos (30 ao todo), de modo que são, salvo raras excepções, narrativas de curta duração. Uns poderão ser melhores que outros, é perfeitamente normal; mas, ao longo de toda a obra, é difícil encontrar um conto que se destaque claramente – quer pela positiva, quer pela negativa. Este facto, para que não haja mal entendidos, é para mim bastante positivo, pois faz da obra um todo coerente em vez de um depósito aleatório de textos díspares.
Aliás, há mesmo um elo claro de ligação entre todos os contos, o que faz com que a obra possa quase ser vista como um romance de muitas e efémeras personagens. Esse fio condutor que une os contos uns aos outros está identificado logo no título da obra: são as pequenas criaturas. Todos os contos falam dessas pequenas criaturas que são os homens e mulheres. Neste ponto, o título ganha contornos de perfeição: dificilmente se definiria melhor o conteúdo da obra.
Nos contos, os homens e mulheres são vistos precisamente como pequenas criaturas individuais e a curta duração dos contos parece querer dizer isso mesmo: que somos tão pequenos que poucas linhas chegam para contar a história de cada um de nós. No entanto, há, paralelamente, uma quase grandiosidade inerente até à mais insignificante das vidas. São, resumidamente, contos que falam de seres humanos diversos e únicos.
O texto, através de um estilo muito fluido e despreocupado, recorrendo amiúde ao diálogo, conta as vidas (ou pequenos episódios da vida) das mais diversas personagens, passando facilmente de uma modesta empregada de limpeza a um actor famoso.
Portanto, Pequenas Criaturas é talvez um retrato do Brasil de Rubem Fonseca, escritor galardoado em 2003 com o Prémio Camões – a mais importante distinção literária da língua portuguesa.
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