segunda-feira, 8 de novembro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dificuldades da Língua em Uso : Presidente ou Presidenta?

Presidente ou Presidenta? Polêmica, agora, é como o brasileiro vai chamar sua superpoderosa

Chamar presidenta fortalece a luta feminista porque sinaliza logo tratar-se de uma mulher?




Paulo  Leandro|Redação CORREIO
paulo.leandro@redebahia.com.br

Imagina uma cena assim.
- Presidente, presidente, como vai a senhora?
- Presidente uma conversa. Me respeite que eu sou é presidenta. Presidentaaa, entendeu bem? Presidenta!
Este suposto carão de Dilma é só um exercício de fantasia. Mas bem que poderia ilustrar a encruzilhada sociolinguística que sucedeu a eleição de Dilma Rousseff  presidente do Brasil. Ou presidenta. 
A questão pode parecer irrelevante, pois à primeira vista, tanto faz chamar de um ou de outro jeito. Mas ela traz em seu rastro inquietações decisivas para os próximos quatro anos. A escolha por uma ou outra opção gera resultados bem diferentes. Do ponto de vista da norma culta, os dicionários Aurélio e Houaiss já recomendam o uso de presidenta como feminino de presidente ou para a mulher do presidente, mas o debate não se esgota aí.
Chamar presidenta fortalece a luta feminista porque sinaliza logo tratar-se de uma mulher? Presidente, como o CORREIO prefere, é melhor que presidenta para os ouvidos e leitores sensíveis? Dá pra chegar a uma conclusão ou cada um faz sua escolha?

A pedagoga e professora de português, Maria Cristina Vidal, prefere a opção mais fácil de entender. Estabelecida no ramo de suporte pedagógico, a antiga “banca” ou “reforço escolar”, ela ensina a seus alunos escreverem “a presidente” porque “a presidenta não soa bem”.
Cristina compara: “gerenta também existe, mas ninguém chama assim desse jeito. No Exército, não tem soldada, nem capitã... é muito feio!”.
A pró segue os ensinamentos do professor Adalberto J. Kaspary, que vai buscar na  Academia das Ciências de Lisboa, a fonte para defender o uso da palavra comum a homem e mulher: presidente. Segundo a interpretação de Kaspary, “presidenta” pode tornar-se pejorativo, principalmente se ela fracassar.
Chamar de chefa e parenta também ficou meio baixo-astral em contextos específicos de desvalorização da mulher.
Ellen Gracie Northfleet, a primeira mulher a presidir o Supremo Tribunal Federal, se diz presidente, que é mais formal, como pede o cargo. A acadêmica Nélida Piñon seguiu esta trilha, ao apresentar-se como “a primeira presidente” da Academia Brasileira de Letras. Patrícia Amorim é a presidente do Flamengo e não presidenta.
O famoso professor Pasquale Cipro Neto se escala no time que prefere chamar “presidente Dilma”. Em uma de suas aparições em programas de TV sobre língua portuguesa, aproveitou o momento político para decretar: normalmente as palavras que terminam ‘nte’ não têm variação. “O que identifica o gênero é o artigo que o precede, como o gerente, a gerente, o pedinte, a pedinte”. 
A professora baiana, filha de pais russos, Nadegda Kochergin, pede licença para discordar do mestre Pasquale: “Presidenta é melhor porque deixa claro ser uma mulher e a questão de gênero, agora para o Brasil, vai tomar um novo fôlego”.  É assim, “presidenta Dilma” que o Kumon, estabelecimento onde a professora Nadegda trabalha, com 25 unidades em Salvador e Região Metropolitana, vai recomendar a seus 2,6 mil alunos.
Na campanha, o PT divulgou “candidata a presidenta”. Se for dado a Dilma o direito de decidir como prefere, é muito provável que ela determine ser chamada  “presidenta”. 
Antes, a forma feminina se estabeleceu em professora, doutora e juíza, que também soaram estranho nos primeiros anos, mas depois foram assimilados no falar cotidiano dos brasileiros.






Fonte: Correio