domingo, 12 de dezembro de 2010

Admirável Gado Novo



Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber…
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer…
Refrão
Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado, Êh!
Povo feliz!..
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal…
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou…
Refrão
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela…
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A Arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar…
Refrão
A composição foi feita com três estrofes Oitavas e uma Quadra-Refrão
repetida entre elas, que a definiram como Balada. O texto do Refrão, que nos 
sugere como gado marcado, mostra a nossa acomodação diante da rotina social
a que nos permitimos submeter sem questionamentos.
Cada uma das Oitavas trás interpretações de fragmentos das previsões de 
Huxley para a nossa sociedade, submetida a uma Educação Programada, que 
nos tornaria limitados, nas Reações formais e dedutivas, diante das Ações 
informais, mas educativas.
Essa primeira estrofe trás também, nos últimos quatro versos, a posição 
contrária e submissa do Educador diante do quadro social que se mostrava
presente e sugeria um futuro óbvio de automação submissa.

A segunda estrofe longa sugere mostrar o trânsito da informação ancestral, via
radiodifusão e imprensa escrita, estampadas na velhice à beira da estrada da 
vida, pesando pelo hoje, as qualidades do ontem diante das incertezas do
amanhã, baseadas no quadro descrito na primeira estrofe.

A última estrofe já é a narrativa do comportamento social contemporâneo e
consequente, previsto nas anteriores, onde o jovem, buscando se entender no
Presente com tais características, reconhece como melhores as gerações
passadas, assumindo finalmente à insegurança dos próprios passos, conforme
desejava a Educação prevista na primeira estrofe.

Ainda nessa última estrofe, o Zé contribuiu com algumas observações menos
proféticas, como o ser social aprisionado em seu próprio lar pela criminalidade 
externa, numa idéia provavelmente capturada da composição O Hino da 
Repressão (segundo turno), da Ópera do Malandro (o filme), Chico Buarque,
que diz:

A lei tem motivos
Pra te confinar
Nas grades do teu próprio lar

A criminalidade externa a que me refiro não é essa que observamos no cotidiano
de balas perdidas etc; mas, talvez, à que seguirá abaixo, que consta num 
apócrifo editado pela primeira vez 25 anos antes do Admirável Mundo Novo:


“Um espírito equilibrado poderá esperar guiar com êxito as multidões por meio 
de exortações sensatas e pela persuasão, quando o campo está aberto à
contradição, mesmo desarrazoada, mas que parece sedutora ao povo, que tudo 
compreende superficialmente? Os homens, quer sejam ou não da plebe, guiam-
se exclusivamente por suas paixões mesquinhas, suas superstições, seus 
costumes, suas tradições e teorias sentimentais; são escravos da divisão dos 
partidos que se opõem a qualquer harmonia razoável. Toda decisão da multidão
depende de uma maioria ocasional ou, pelo menos superficial; na sua ignorância 
dos segredos políticos, a multidão toma resoluções absurdas; e uma espécie de 
anarquia arruína o governo.

A política nada tem de comum com a moral. O governo que se deixa guiar pela 
moral não é político e, portanto, seu poder é frágil. Aquele que quer reinar deve 
recorrer à astúcia e à hipocrisia. As grandes qualidades populares – fraqueza e 
honestidade – são vícios na política, porque derrubam mais os reis dos tronos 
que o mais poderoso inimigo. 

Nosso fim é possuir a força. A palavra “direito” é uma idéia abstrata que nada 
justifica. Essa palavra significa simplesmente isto: “Dê o que eu quero para eu
 provar que valho mais que você!”. Onde começa ou acaba o direito?

Num estado em que o poder está mal organizado, em que as leis e o governo se
tornam impessoais por causa dos inúmeros direitos que o liberalismo criou, veio 
um novo direito, o de me lançar, de acordo com a lei do mais forte, contra 
todas as regras e ordens estabelecidas, derrubando-as; o de por a mão nas leis, 
remodelando as instituições e tornando-me senhor daqueles que abandonaram 
os direitos que lhes davam força, renunciando a eles, voluntariamente, 
liberalmente…”
Os Protocolos Dos Sábios do Sião ( capítulo I ).

Fonte




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