quarta-feira, 24 de março de 2010

Variedades Linguísticas

Gíria "detonada"

Será que você já fez uso de "adequação vocabular"? "Vocabular" diz respeito a vocábulo, palavra. "Adequação vocabular" é adequar as palavras à situação de fala. As gírias, por exemplo, podem ser perfeitamente ajustadas a certos contextos. Repare na palavra "detonada" utilizada na letra da música abaixo, "Nada a declarar", do grupo Ultraje a Rigor:

Mas eu 'tô vendo que a galera anda entediada
não 'tá fazendo nada e eu não 'tô dando risada
Aí, qualé? Vamos lá, moçada!
Vamos agitar, vamos dar uma detonada

"Detonar", nos dicionários, aparece como sinônimo de "fazer explodir", "provocar uma explosão". Na gíria, essa palavra passou a ser usada como sinônimo de "pôr tudo a perder", "acabar com tudo" e até de "ser o máximo", "ser o melhor dos melhores". O jogador que "detonou", por exemplo, foi o melhor do jogo.
No território da gíria, da linguagem popular, usar o verbo "detonar" com esse sentido é perfeitamente possível. Em linguagem formal, isso não seria de maneira alguma adequado. "Detonar" se limitaria, nesse caso, a indicar a idéia de explosão. 


Gíria
"não dá para"
Na canção abaixo, aparece uma expressão muito comum na fala, no bate-papo, que, no entanto, não deve freqüentar o chamado padrão escrito, o padrão formal da língua. O trecho faz parte da canção "Pra Dizer Adeus", dos Titãs:
...não dá pra imaginar quando
é cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais
Na linguagem popular, a expressão "não dá pra..." é aceita e muito comum. No texto formal, no entanto, o mais apropriado seria utilizar "não é possível" ou algo equivalente. A expressão "não dá pra..." é bastante recorrente. Outro exemplo do seu uso é a canção "Rádio Bla", com Lobão:
... não dá para controlar, não dá
não dá pra planejar...
Utilizar essa expressão não é errado. Ela é adequada a um determinado nível de linguagem, como a fala. Mas o padrão escrito não a recomenda.
  

Uso de "gente" e "nós"


Afinal de contas, podemos ou não utilizar a expressão "a gente" no lugar de "nós" ? Dizer que não há problema nenhum em usarmos a expressão no dia-a-dia, na linguagem coloquial, contraria muitas pessoas, para quem esse uso da palavra "gente" deveria ser abolido de vez.
Evidentemente não é possível eliminar a expressão da língua do Brasil, mesmo porque seu uso já está mais do que consagrado. Mas quando ela é de fato mais lícita? No bate-papo, na linguagem informal. No texto formal, ela está fora de questão. Mas, uma vez usada, como deve ser a concordância? É "a gente quer" ou a "gente queremos"? A maneira correta é:
A gente quer.
Nós
queremos.
O uso da expressão "a gente" em substituição a "nós" é tão forte que algumas vezes dá origem a confusões. Veja o trecho da canção "Música de rua", gravada por Daniela Mercury:

... E a gente dança
A gente dança a nossa dança
A gente dança
A nossa dança a gente dança
Azul que é a cor de um país
que cantando ele diz
que é feliz e chora

"A gente dança a nossa dança". É tão forte a idéia de "gente" no lugar de "nós" que nem faria muito sentido outro pronome possessivo para "gente", não é? O "nossa" é pronome possessivo da 1ª pessoa do plural e, portanto, deveria ser usado com o pronome "nós":
"Nós dançamos a nossa dança".

Na linguagem coloquial, no entanto, diz-se sem problema "a gente dança a nossa dança", "a gente não fez nosso dever", "a gente não sabia de nosso potencial" etc.
No bate-papo, no dia-a-dia, na canção popular, não seria inadequado o emprego da palavra "gente" — que nos perdoem os puristas, os radicais, os conservadores. Só não é possível aceitar construções como "a gente queremos". Isso já seria um pouco excessivo. 



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